Após acordar em um lugar que mais parecia a arena de um torneio, encontrar um cosplay de Yukina e enfrentar um cosplay de Kuwabara de Yuyu Hakusho, nosso herói Kuwabara recebeu uma espada energética na cabeça. Será esse o fim do herói de conto mais querido desse blog? O que será que existirá no outro lado da não-vida vampírica? Será que ele vai parar para pensar sobre o quão estranha é toda essa situação? Não percam as cenas do próximo capítulo de Crônicas Vampirescas
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Abri os olhos.
Estava em um lugar. Tudo escuro. Coloquei a mão na minha cabeça,
onde a lâmina havia acertado e não senti nenhuma marca. Isso é
bom. Não sei se é por causa de alguma relação com a minha
condição vampírica, mas acredito que estar morto
não é tão diferente de estar vivo. Bem, ao menos tão vivo quanto
um vampiro está vivo e o fato de eu já estar meio
morto ajudou bastante no fato de eu aceitar o fato de eu me tornar
totalmente morto.
Dei uma olhada em
todo o mundo que me cerca e notei que apesar de toda a escuridão, eu conseguia ver uma pequena criança (adolescente?) de cabelos verdes agachada, cutucando alguma coisa com um pedaço de graveto. Me
aproximei e me agachei ao lado dela. Ela se virou para mim e
perguntou:
- Você realmente
acha que isso é a morte?
- Sim. Não o é?
Ao invés de
responder a minha pergunta (ao que parece que ninguém se importa muito
em responder as minhas perguntas), ela pegou na minha mãe e disse: - Venha, quero te
mostrar algo.
Senti
uma forte vertigem e o mundo ao meu redor começou a se dissolver e
ganhar nova forma. Um dia ensolarado foi se formando. Estávamos no parque do Ibirapuera. No
instante em que vi as pessoas passando, lembrei-me do dia.
Foi uma
passeio que eu fiz com a minha família quando eu tinha 6 anos. Pude
relembrar bem todas as cenas e todas as situações. Eu
indo com a minha família, o passeio no parque, mamãe me ensinando
a rezar, meus irmãos preparando o picnic e o gato.
Nesse dia,
durante a volta, encontramos uma garotinha chorando porque tinha
perdido o gatinho dela. Por acreditar na importância de fazer boas ações e de cultivar um bom karma, minha mãe decidiu que nós iríamos ajudar aquela garota.
Começamos o trabalho e após uns 40 minutos de busca, fui eu quem
o encontrou. Ele estava no topo de uma árvore. Ao avistá-lo, decidi subir na árvore para buscá-lo e consegui fazer com
que ele descesse.
Após o gato ir para o chão, lembrei que eu tinha medo de altura e comecei a chorar por medo de ficar preso e ser abandonado ou cair. As últimas imagens dessa cena – antes do ambiente se dissolver – foi de o meu pai subindo na árvore para me resgatar e
minha irmã mais velha me caçoando pois "o grande herói precisou ser
salvo".
Enquanto aquela cena
se desfazia a Cabelos Verdes disse: - Quando você era pequeno, você
se importava mais com os outros do que com você mesmo. Essa era uma
das suas fontes de forças.
A cena seguinte é
de uma conversa que eu tive com o meu pai, quando ele foi me dar boa
noite e estava tentando explicar conceitos complexos sobre a vida, o universo e tudo mais. Eu tinha 9 anos. Três mendigos haviam pedido esmola para o
meu pai. Para um ele deu comida, para o outro dinheiro e para o
terceiro ele deu uma bronca e ralhou muito. Eu não entendia a
diferença de reações.
Com muita paciência
ele tentou mostrar que mundo não era
dividido por pessoas totalmente boas e pessoas totalmente más. Cada
pessoa tinha as suas motivações e precisávamos saber lidar com
cada uma delas. Pois uma pessoa pode pedir dinheiro porque precisa
comprar comida, a outra pode mentir porque quer bebida e uma terceira
pode pedir porque não reconhece a sua capacidade.
Um pouco antes de
dormir, já meio sonolento, perguntei: - Pai, o que é que faz um
herói?
- Essa é uma
pergunta difícil de responder. Você precisará buscar a sua
resposta. Para mim, herói é aquele que defende os mais fracos
daqueles que são mais fortes e querem abusar dessa força. Mas nem
sempre é fácil saber quem é o mais fraco, ou quando você deve tomar em uma disputa. É sempre bom ouvir o seu coração
para saber o que você deve fazer.
Então, mais uma vez o mundo
se desfez e eu ouvi a voz infantil e feminina: - Quando não souber
como agir ou que lado tomar, ouça o seu coração. Desse modo, você agirá conforme o que você acha ser o certo.
Mudamos para uma das
cenas que eu jamais esqueci e que eu acredito que jamais. Eu com 11 anos, arrumando as cadeiras do glorioso Kuwabara's sushi - A melhor comida oriental do Brasil - no fim do expediente.
A porta estava fechada. Ao menos era a minha função fechar a porta, mas ela não estava realmente fechada. Entram 3 homens grandes e fortes.
Eles queriam o dinheiro e trancaram toda a família (a família que trabalhava no restaurante) no banheiro.
Como o movimento tinha sido
fraco, eles ficaram muito irritados e resolveram descontar as frustrações na gente. Houve algum tumulto e um deles deu um tiro para o teto para assustar a gente. Contudo, o tiro ricochetou e acertou o meu pai. Isso deixou os ladrões assustados que resolveram partir em retirada. Antes de eles fugirem, ainda deram dois tiros
a esmo. Os tiros teriam acertado em mim, se minha mãe não tivesse se jogado na minha frente e servido como escudo humano. Ela morreu nos meus braços, com uma cara assustada, mas feliz por eu estar bem.
Enquanto a cena se
dissolvia, eu notei que estava chorando lágrimas de sangue.
Minha guia olhou para mim e, meio sem jeito, me abraçou e falou no
meu ouvido: - Uma das coisas que faz um verdadeiro herói é estar
disposto a fazer qualquer o que for necessário para proteger aqueles que ele
considera importante. - Após algum tempo, ela continuou – Vamos,
está quase acabando.
A última cena não
foi realmente uma cena. Foi uma sequência de cenas. Todas elas são
de após eu vir morar em Florianópolis. São cenas do meu
treinamento com Tengu e Karasu, de reuniões com X,Y,Z, de conversas
(que quase sempre terminavam comigo apanhando) com a Flô, idas a
Toca do Corvo para conversar com a Rose e a Tora, missões que eu recebia do Ling, entre outras
coisas...
Estava ficando quase
tonto com tantas mudanças, quando terminamos. Por fim, minha guia (ela deveria ter uns 15 anos e eu a conhecia de algum lugar) disse: - a
sua força vem de vários lugares diferentes, descubra como extrair
essa força e você se tornará invencível.
Ela ficou em pé, me
levantou, me abraçou e disse com um sorriso malicioso: - Estou
aguardando ansiosa pelo nosso encontro. - Deu um leve beijo nos meus
lábios e completou – Será um encontro inesquecível.
E tudo se dissolveu, inclusive eu e ela.